Os resorts têm se revelado um dos meios de hospedagem mais favoráveis para pessoas com deficiência física ou com mobilidade reduzida. Saiba por que neste post!
A hospedagem é uma das maiores preocupações de uma pessoa com deficiência quando planeja viajar. Afinal, não é simples encontrar locais que têm o nível de acessibilidade que precisamos, e um hotel inadequado pode impactar toda a viagem.
Para um viajante que tem deficiência de mobilidade, há ainda outra preocupação: o ideal é que o hotel não fique muito distante dos pontos turísticos, ou do sistema de transporte, para não dificultar os deslocamentos.
Uma forma que temos encontrado de essa equação é a hospedagem em resorts. Por falar nisso, você já ficou em algum?
O que é um resort?
Você sabia que no Brasil existe um sistema de classificação de tipos de hospedagem? Ele foi elaborado por meio de parceria entre o Ministério do Turismo, o Inmetro, a Sociedade Brasileira de Metrologia e a sociedade civil, e a classificação considera a infraestrutura, os serviços e a sustentabilidade.
Os resorts são hotéis classificados como 4 ou 5 estrelas que têm infraestrutura de lazer e entretenimento, entre outros, no próprio empreendimento.
Estão localizados fora dos centros urbanos, sem que isso represente um problema, já que oferecem tudo que o hóspede possa precisar. Alguns são all inclusive, ou seja, o valor da diária inclui tudo o que você beber ou comer.
E por que o resort é interessante para a pessoa com deficiência de mobilidade?
Tudo ao mesmo tempo agora
Como é um estabelecimento 4 ou 5 estrelas, o resort traz muito mais conforto que outros hotéis, o que é um ponto importante para pessoas com deficiência física. Isso ocorre porque precisamos de espaço para circulação com cadeira de rodas e outros equipamentos, tanto no quarto, quanto no banheiro, como também nas áreas comuns.
É comum que hotéis pequenos ou muito simples não possuam espaço suficiente para adaptar as dependências ao uso de um cadeirante.
Aliado a isso, o fato de o resort oferecer serviços e estrutura tão abrangentes faz com que a pessoa com deficiência não precise ficar se deslocando, o que também é um elemento facilitador. No mesmo local, ela pode passear, participar de atividades esportivas ou recreativas, fazer uma massagem, usar a piscina e a praia (se houver acessibilidade), ir ao bar ou à boate e até assistir a shows.
Essa concentração de atividades num mesmo local faz com que esse tipo de hospedagem favoreça também os idosos e as famílias com crianças.
Nem tudo são flores
Mas nos resorts há um ponto não tão favorável, que deve ser levado em consideração antes de você se decidir por um.
Para oferecer tantas possibilidades, a área onde ele está localizado precisa ser extensa, e isso pode ser cansativo para uma pessoa com deficiência física ou com mobilidade reduzida.
Por exemplo, no Iberostar Bahia, onde me hospedei duas vezes, é necessário rodar uma grande distância para ir da ala onde estão os quartos acessíveis até o restaurante principal. Multiplique isso por três refeições, mais as saídas a passeio, e você poderá ter uma ideia.
Uma das vezes em que estive lá, minhas companheiras, duas cadeirantes que levaram suas scooters, me “guinchavam” de um lugar a outro quando eu estava muito cansada. Da segunda vez, estava com minha mãe, e ela anda devagar. Então, me cansei bem menos, porque eu rodava na velocidade dela.
Ainda não conheço resort que ofereça carrinhos de golf para os deslocamentos internos, nem mesmo aluguel de scooters ou cadeira motorizada, infelizmente. Fica a dica.
Então, sugiro que, se você não está acostumado ou não dá conta de percorrer longas distâncias, várias vezes ao dia, pense em levar uma scooter ou um empurrador para a cadeira de rodas…
Passeios fora do resort
De modo geral, os resorts oferecerão ao hóspede possibilidades de fazer passeios.
É comum que tenham, em suas dependências, escritório de turismo com várias opções de pacotes, ou que ofereçam transporte próprio em horários determinados, deixando os hóspedes em lugares de interesse e buscando mais tarde. Ainda é raro que esteja prevista acessibilidade nesses passeios, mas pode ser possível ajustá-los às suas necessidades.
Também é preciso lembrar que, na era da informação, não é difícil você mesmo investigar, com antecedência, transporte acessível para levá-lo aos pontos onde deseja, para não ter com que se preocupar durante sua viagem
Para quem o resort é melhor?
Algumas pessoas não apreciam passar o(s) dia(s) no mesmo local. Preferem sair do hotel diariamente e transitar pelas imediações ou pela cidade.
Então, penso que resorts não seriam bons para elas, mas são perfeitos para quem prefere se deslocar menos, ou está cansado, precisando de sombra, água fresca e pernas para o ar.
Se você gosta da ideia de passar parte do dia deitado numa espreguiçadeira à beira da piscina ou na praia, fazer refeições sem pressa, receber uma massagem ou aproveitar o bar à tardinha, o resort é pra você. E, à noite, que tal um show? Pode beber à vontade, afinal o quarto está logo ali, a poucas rodadas de distância… Só não vale capotar a cadeira, hein?
Aprecio bastante os resorts quando preciso descansar! Chego a passar a manhã inteira na piscina, olhando para o mar, porque isso realmente restaura minhas energias. Daí, tiro um ou dois dias para passeios e fico fora o dia inteiro.
Agora, vamos às dicas?
Dicas de resorts com acessibilidade no Brasil
Todos os resorts indicados aqui constam de posts detalhados no blog Cadeira Voadora e têm avaliações no Guiaderodas, caso necessite de outras informações para facilitar sua escolha, combinado?
Iberostar Bahia
Fica a cerca de 80km de Salvador, a 57 km do Aeroporto Internacional de Salvador e a 9 km da vila da Praia do Forte.
Fiquei hospedada duas vezes, sendo a primeira com duas amigas também cadeirantes, e a segunda com minha mãe.
Durante a semana, o resort fica mais tranquilo, com menos hóspedes, sendo a maioria casais com crianças pequenas, de cidades distantes e até de outros países, mas também encontramos grupos de amigos. A partir de sexta-feira, chegam casais com crianças mais velhas e adolescentes, sendo em sua maioria pessoas que moram em regiões próximas. O resort fica cheio e o ambiente mais barulhento, portanto, se sua necessidade é sossego, é melhor chegar no domingo ou na segunda.
Tudo é organizado e limpo, e os funcionários são simpáticos, cooperativos, bem treinados. Há um restaurante principal, com vários buffets, em que a variedade e a fartura impressionam. É impossível passar fome ou sede no Iberostar, que é all inclusive.
Acessibilidade: Quarto grande, mas apenas com cama de casal. Varanda super charmosa. Banheiro grande, com pia que permite aproximação da cadeira de rodas, mas não há cadeira higiênica, somente banco fixado à parede. As piscinas não têm elevador, e não há acessibilidade para a praia, porém não falta acessibilidade atitudinal. Recreadores e salva-vidas estão à disposição para ajudar no que for necessário. Os pisos internos (corredores, salões, restaurantes) são lisos e antiderrapantes. Do lado de fora, são blocos de concreto em boas condições, gramado e areia em outros pontos. Todos os quartos adaptados ficam no térreo. Há banheiros adaptados espalhados pela área do resort.
Iberostar Bahia no blog Cadeira Voadora
Iberostar Bahia no TripAdvisor
Arraial d’Ajuda Eco Resort
É um hotel encantador, tanto no que diz respeito à decoração e ao paisagismo, quanto no aconchego do local e na beleza das vistas para o mar e para o rio.
Para chegar até lá, é preciso tomar um voo até Porto Seguro, e em seguida pegar táxi ou Uber (ou reservar traslado) e fazer a travessia por balsa (não será necessário sair do carro). O resort tem uma embarcação que faz a travessia, mas, neste caso, você terá que descer do carro e pegar o barco deles, num píer sem acessibilidade, embora os marinheiros facilitem ao máximo. Já no hotel, o píer tem rampa, embora reste um desnível para desembarcar.
Amei a forma como fomos recepcionadas, assentadas em confortáveis sofás, com a funcionária trazendo os papéis para serem preenchidos. Ela nos ofereceu água de coco, e assim pudemos fazer o check-in sem pressa e sem agitação. Preciso dizer que sempre viajo em baixa temporada, o não somente torna as tarifas mais baixas, mas o atendimento mais tranquilo.
O Eco Resort fica a 5km do centrinho de Arraial d’Ajuda, com transporte gratuito em horários definidos, mas não é acessível. Como alternativa, é possível pegar táxi ou Uber.
Acessibilidade: infelizmente, só há um quarto com condições de receber cadeirantes, e precisei solicitar algumas intervenções no banheiro. Porém, todas foram realizadas com boa vontade e prontidão. Alguns trechos do jardim são praticamente inacessíveis a cadeiras de rodas, por causa das pedras, mas há outras passagens, e todos os recantos são muito agradáveis, com belas vistas. Não há elevador nas piscinas, mas há uma rampinha para descer até a praia.
Hotel Vivá Porto de Galinhas
Porto de Galinhas não é uma cidade, como muitos tendem a pensar. É uma praia situada no município de Ipojuca e também o nome do distrito onde fica a praia. Fica a cerca de uma hora de Recife.
É nesta praia que se formam as famosas piscininhas naturais e onde funciona o projeto Praia sem Barreiras, vinculado à ONG Rodas da Liberdade. A equipe oferece, às pessoas com deficiência, banho de mar assistido e passeio de jangada com monitores e jangadeiros treinados. Para saber dias e horários de funcionamento, acesse o Instagram da ONG, pois as atividades só são oferecidas na maré baixa.
Do aeroporto de Recife até o hotel, fizemos o traslado contratando a van do projeto Rodas da Liberdade, como você pode ler neste post .
O Vivá fica fora da área mais movimentada de Porto de Galinhas, mas não é longe dela, aproximadamente 7km. Fizemos esse trajeto sempre de Uber.
O hotel é “pé na areia”: basta atravessar a área da piscina e já estamos naquela praia calminha, sem muitos ambulantes (havia só um ou outro) e sem música no último volume. Bem, pode ser que estivesse tão calmo por ser baixa temporada, então não posso garantir que será sempre assim.
Acessibilidade: Tudo é muito amplo, limpo, organizado e bonito, desde a entrada até os quartos e os jardins. A parte de lobby, bar, restaurante e varanda é ampla e sem desníveis. No restaurante, o balcão do almoço é um pouco alto, mas os funcionários são cooperativos e bem-treinados para compensar as dificuldades. A recepção tem balcão em duas alturas.
Há rampa coberta para a área dos quartos, mas o acesso após ela é descoberto.
O quarto é amplo, com excelente área de giro, varanda e cama de casal. No chuveiro, havia uma ducha sem regulagem de altura e sem acesso manual. A pia permite aproximação frontal da cadeira de rodas, mas alguns cadeirantes podem bater o joelho, porque foi instalada abaixo da altura recomendada pela norma. Havia barras para acesso ao vaso sanitário e espaço para aproximação lateral.
Para alcançar a praia, foi preciso passar por uma passarela forrada com cocos, mas prometeram construir uma passagem adequada. Se quiser descer até a faixa de areia, os salva-vidas ajudam, e os funcionários posicionam as cadeiras e os guarda-sóis onde for melhor para nós. Mas você também pode ficar no gramado, numa espreguiçadeira ou na cadeira de rodas, contemplando o mar…
Jurerê Beach Village (Florianópolis)
Todas as informações sobre este hotel me foram oferecidas gentilmente pelo leitor William Dias Gomes, que é cadeirante, ficou hospedado no local e fez um post para o blog Cadeira Voadora.
Situado na praia de Jurerê Internacional, uma das mais badaladas de Florianópolis, o Jurerê é aconchegante, os funcionários são corteses e fazem de tudo para que a nossa estadia seja a mais agradável possível.
O resort é todo plano, possui torres de 4 andares e acesso por elevadores. Todas dão acesso à área das piscinas, que é central.
Uma das piscinas é de água fria, com entrada “zero entry”, e a outra tem água aquecida e uma baixa mureta no entorno. Para William, esse detalhe facilitou a entrada, pois conseguia se transferir da cadeira para o degrau e depois para dentro da piscina.
O apartamento adaptado tem cerca de 52m² e é composto de antessala, quarto e banheiro. Comporta até 5 pessoas, pois possui cama de casal, sofá-cama e cama extra embutida. Coisa rara, viu?
Acessibilidade: Os apartamentos têm estilo flat, com mini cozinha, incluindo os utensílios. A área de banho tem apenas uma barra de segurança ao lado da ducha e não possui banqueta fixada na parede, mas sim cadeira higiênica. A ducha manual foi instalada em boa altura. O vaso sanitário tem elevação e conta com apenas uma barra de segurança, que fica na lateral direita.
O Jurerê é “pé na areia”, e a rampa que dá acesso à praia está logo após as piscinas. E o melhor é que o hotel oferece cadeira anfíbia!
A praia tem acesso livre. Sendo assim, além do serviço do próprio resort, existem inúmeros quiosques com garçons que podem vir até você. Perto há alguns restaurantes e um mercado.
Outra dica importante é que os preços na baixa temporada são ótimos, tendo em vista toda a estrutura oferecida.
Jurerê Beach Village no Cadeira Voadora
Jurerê Beach Village no Trip Advisor
Inicie seu planejamento!
Depois dessas dicas, você já pode planejar suas férias na praia com mais tranquilidade, não? Aproveite bem e conte sua experiência para nós, quando retornar!Ah, e se você tem dicas de hotéis na praia para compartilhar conosco, deixe aí nos comentários ou, melhor ainda, faça uma avaliação no app Guiaderodas. Facilitamos muito a vida uns dos outros ao compartilhar experiências, não é mesmo?
Como organizar uma viagem com acessibilidade
Laura Martins
Cadeirante e vive em Belo Horizonte. Gosta tanto de viajar que criou o blog Cadeira Voadora a fim de compartilhar experiências de viagem com acessibilidade. Segundo ela, seu objetivo é deixar asas na porta das pessoas, para criarem coragem e começarem a “voar”. Também trabalha com consultoria e palestras, a fim de que a tão desejada “cidade para todos” seja um dia algo tão corriqueiro que nem chame mais atenção.