Equipamentos prometem tornar o ensino de Braille mais divertido e contribuir para o ensino de deficientes visuais
O Sistema Braille, que permite a cegos ler e escrever fazendo uso de símbolos impressos em relevo, foi criado pelo francês Louis Braille (1809 – 1852) aos 16 anos. Mesmo chegando no Brasil em 1854, ainda existe muita dificuldade em torno do sistema (seja de acesso, dificuldade em ensinar, má tradução, preço de equipamentos etc). Por isso, sempre que uma nova tecnologia é lançada, comemora-se a possibilidade de aumentar e facilitar o acesso de pessoas cegas a materiais escritos. Afinal, só no Brasil existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, de acordo com os números do Censo do IBGE de 2010.
Um dos lançamentos recentes no Brasil foi o Brinca Braille, distribuído no país pela Tecassistiva. Ao contrário dos métodos tradicionais existentes, o produto tem como proposta ensinar o Braille de maneira mais interativa e divertida. Com blocos de pontos Braille e encaixe magnético, ele permite que o aprendizado se torne mais divertido.
Segundo Wagner Bispo, da equipe comercial da Tecassistiva, o Brinca Braille tem tudo para mudar a maneira como professor e aluno se relacionam no aprendizado da linguagem.
“Entre outras funcionalidades, o professor pode usar o celular para enviar informações ao aluno e o aluno tem a tarefa de reproduzir esses dados em Braille de forma divertida, por meio de apps e do equipamento. Ele permite trabalhar letras, números e notas musicais. Tudo isso ajuda a criar um ambiente mais amigável para o ensino”, explica Bispo.
Espaço para inovação
A Tecassistiva tem como público-consumidor não só organizações que trabalham com pessoas com deficiência visual, como também os próprios cegos. A empresa acredita que o uso de tecnologia pode facilitar o aprendizado de Braille.
“No Brasil, muitos cegos se apoiam no áudio para terem acesso a livros e outros tipos de informação. Acreditamos fortemente que equipamentos com maior interatividade podem atrair mais o interesse das pessoas para o aprendizado da linguagem e tornar o processo mais leve”, conta Wagner Bispo, explicando que ainda há muito espaço para inovar nesse sentido e que a empresa está sempre de olho no que vem sendo produzido lá fora.
Difícil acesso
Infelizmente, com a alta do dólar, a aquisição de produtos como o Brinca Braille fica um pouco mais complicada. “A grande maioria dos produtos que comercializamos vem de fabricantes de fora do País, o que torna os valores pouco acessíveis”, afirma Wagner.
Mesmo assim, um dos maiores compradores da empresa são os governos, que tem feito o possível para ampliar a oferta de novas tecnologias para o aprendizado do Braille em suas instituições.
Onde buscar mais informações
Duas instituições no Brasil fazem um importante trabalho para a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Um deles é o Instituto Benjamin Constant, que nasceu em 1850 e foi pioneiro no ensino de Braille no País. Hoje, ele é mais do que uma escola voltada para crianças e adolescentes cegos, surdocegos, com baixa visão e deficiência múltipla: o IBC vem trabalhando para questões da deficiência visual em todo o país por meio de capacitação de profissionais e assessoria para instituições públicas e privadas nessa área, além de reabilitar pessoas que perderam ou estão em processo de perda da visão.
Outra importante instituição é a Fundação Dorina Nowill para Cegos. Fundada há mais de 70 anos, ela se dedica à inclusão social de pessoas com deficiência visual por meio de diversas ações. Uma delas é a produção e distribuição gratuita de livros em braille, falados e digitais acessíveis, diretamente para o público e também para cerca de 3000 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil. A Fundação também oferece, gratuitamente, serviços especializados para pessoas com deficiência visual e suas famílias, nas áreas de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade.
Aplicativos para Cegos
Vanessa Fontes
Jornalista, roteirista e mãe. Possui experiência em cultura e economia de impacto. Sempre acreditou que calçar o sapato dos outros pode contribuir para a construção de um lugar melhor para se viver.