Neuropediatra esclarece os principais mitos sobre o autismo e explica como funciona o diagnóstico em crianças e adultos
Embora esteja cada vez mais em alta – sendo retratado até em séries –, o autismo ainda gera muitas dúvidas nas pessoas. Afinal de contas, se trata de uma doença? Como identificar autismo em bebê? E em adultos? Para esclarecer as principais questões sobre o assunto e romper estigmas e fake news, o Guiaderodas conversou com Anderson Nitsche, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Confira a seguir.
7 dúvidas respondidas sobre autismo
1. Autismo é uma deficiência?
Sim. “O autismo é uma deficiência associada ao desenvolvimento cerebral, que perdura por toda a vida da pessoa, afetando especialmente a sua capacidade de comunicação, interação social e compreensão sobre como as outras pessoas pensam ou sentem”, explica Anderson.
Isso significa, inclusive, que os direitos das pessoas com deficiência também se aplicam aos autistas. E, constitucionalmente, existem leis que garantem uma Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, como a Lei Romeo Mion.
2. Trata-se de uma doença?
“O autismo não é considerado uma doença, mas um transtorno do neurodesenvolvimento”, esclarece o médico. De acordo com a última CID – a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) –, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) une todos os diagnósticos do transtorno, com subdivisões relacionadas a prejuízos na linguagem e deficiência intelectual.
“O TEA é uma categoria diagnóstica que, como o nome sugere, engloba um leque de apresentações clínicas. No polo mais funcional, há pessoas com excelente rendimento intelectual, melhor ajuste social e que conseguem criar independência e autonomia em suas vidas. Vários pesquisadores e ativistas, portanto, defendem que o autismo deveria ser considerado uma variação da neurodiversidade humana”, aponta Anderson.
3. Como identificar autismo em bebê?
Saber como identificar autismo em bebê é uma dúvida comum dos pais, e vale saber que não há idade mínima para o diagnóstico. Anderson aponta, por exemplo, que bebês com menos de um ano que apresentam autismo podem demonstrar pouco interesse nas relações sociais com seus pais e cuidadores. Em geral, eles fazem pouco contato visual, apontam menos para um objeto ou ação de seu desejo, sorriem menos e podem balbuciar padrões monótonos, repetitivos e pouco elaborados.
Por outro lado, quando o quadro é mais leve, o médico explica que é mais difícil perceber os sintomas. “Por vezes o prejuízo só é evidenciado a partir da necessidade de interações sociais mais complexas, como ao início da educação fundamental ou na adolescência”, coloca. “Entretanto, uma boa prática clínica é recomendar intervenções precoces, mesmo em situações de dúvida diagnóstica.”
4. Como é feito o diagnóstico?
É clínico. Caso os pais suspeitem que o filho tenha autismo, a orientação é procurar uma avaliação especializada, que pode ser feita por psicólogos, terapeutas ocupacionais ou fonoaudiólogos. “Eles possuem capacitação para observar os sintomas e, quando necessário, aplicar testes ou escalas de avaliação que auxiliam na qualificação e quantificação das manifestações clínicas”, esclarece Anderson.
Contudo, o laudo definitivo deve ser dado por um médico. “No nosso meio, neuropediatras e psiquiatras infantis são os profissionais que recebem o treinamento mais consistente para tanto”, afirma.
5. Adultos também podem apresentar autismo?
Sim, uma vez que o transtorno perdura por toda a vida. “Os adultos autistas geralmente se sentem desajeitados ou desconfortáveis com demonstrações de afeto, possuem dificuldade para compreender os sentimentos e desejos do outro e costumam ser muito formais, literais e concretos, demonstrando inadequação nas relações pessoais”, aponta Anderson.
O médico também pontua que nos últimos anos o diagnóstico de autismo se tornou mais frequente, pela maior divulgação do transtorno e também pela flexibilização dos critérios diagnósticos. Por esse motivo, há muitas pessoas, hoje adultas, que não foram identificadas como autistas na infância.
6. Autismo é genético?
“A causa do autismo é multifatorial, mas ainda pouco conhecida”, afirma o neuropediatra.
Falando sobre o que já se sabe, em relação aos aspectos genéticos que podem estar envolvidos, o médico aponta que algumas síndromes genéticas aumentam a probabilidade do transtorno.
Porém, vale ressaltar que fatores ambientais também podem entrar nessa conta, como prematuridade e uso de alguns medicamentos e substâncias durante a gestação. “Mas é importante frisar que não é uma condição provocada por vacinas, alimentos ou por pais frios ou pouco afetivos. Os pais não têm culpa pelo autismo de seus filhos”, atesta Anderson.
7. Quais são as opções de tratamento disponíveis?
O médico explica que o tratamento do autismo é essencialmente comportamental e varia de acordo com cada caso. O processo também é multidisciplinar, e pode contar com psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, médicos, pedagogos, musicoterapeuta etc.
“Não se busca a cura com um tratamento específico, mas dar suporte e instrumentos para uma vida mais independente”, afirma. Para essa finalidade, no Brasil são utilizados métodos como a Análise Aplicada de Comportamento e a Intervenção Precoce de Denver.
Também vale ressaltar a importância do papel da escola, que deve garantir estímulos aos estudantes com autismo, assim como a sua inclusão – se necessário, com a adoção de tutores em sala de aula e adaptações psicopedagógicas.
“No que diz respeito ao tratamento medicamentoso, atualmente não há nenhum fármaco aprovado para tratamento específico do autismo. Entretanto, há vários medicamentos que podem ajudar a controlar sintomas ou condições comórbidos, como agressividade, ansiedade, depressão, impulsividade, desatenção e hiperatividade”, esclarece o neuropediatra.
Para saber mais sobre autismo em bebês
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Luciana Faria
Escolheu o jornalismo para fazer da paixão por contar histórias sua profissão. Há mais de uma década no mercado editorial e poeta desde a infância, acredita que a palavra também pode transformar as pessoas e mudar o mundo!